A especialista Sandra Dedeschi explica como deve ser o acompanhamento dos responsáveis durante os primeiros anos de vida literária da criança
Neste mês, o Brasil tem duas datas comemorativas muito relevantes: o Dia Nacional da Leitura, em 12 de outubro, e o Dia Nacional do Livro, no dia 29. A leitura é a parte essencial para a alfabetização das crianças, e ela desenvolve algumas competências emocionais importantes, que podem ser potencializadas quando há a participação afetiva dos responsáveis.
A leitura para a alfabetização
De acordo com Sandra Dedeschi, Mestre em Psicologia Educacional e gerente pedagógica da Semente Educação, a alfabetização é um processo interno em que a criança aprende a decodificar a escrita. Ou seja, em um primeiro momento, as crianças descobrem como se dá a escrita das palavras, para depois aprenderem a ler o que se escreve.
Por volta dos três anos, o contato com a leitura pelos pais favorece o desenvolvimento da linguagem oral e a construção de vocabulário. Já a partir dos seis anos, quando geralmente as crianças estão mais envolvidas no processo de alfabetização, a presença dos livros é um estímulo de grande riqueza para entender os códigos.
“Quando vão ganhando maior autonomia em relação à escrita, as crianças têm na leitura de textos de gêneros variados um aliado para concretizar e sistematizar o processo de alfabetização”, diz Sandra. Segundo ela, o contato com textos narrativos é benéfico quando, desde cedo, as crianças conseguem manter certa atenção para ouvir a história.
O papel dos responsáveis
Ler para as crianças, além de fortalecer os vínculos afetivos, pode despertar a curiosidade e outras competências socioemocionais. “Conforme os pequenos crescem e se tornam leitores, o adulto pode ler com eles em vez de ler somente para eles. Com os maiores, leitores já autônomos, podem combinar a leitura de uma certa história e trocar bilhetes sobre suas percepções”, diz Sandra Dedeschi.
É interessante promover conversas sobre a história, as personagens, as atitudes e as emoções envolvidas, para dar voz às ideias das crianças. “A aprendizagem não se dá por meio de discursos prontos, o sujeito precisa envolver-se de forma ativa nas reflexões”, afirma.
O adulto também tem um importante papel no modo como oferece os livros para as crianças. Qualquer livro pode despertar a atenção e o interesse nelas, mas a forma como o responsável faz essa oferta também pode contribuir para suas motivações.
“A Educação Infantil está repleta de curiosidades e motivações que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem. Podemos pensar que existe em nós uma força que instiga a vontade de aprender. Essa força, interna, é considerada como proveniente da afetividade. Ou seja, para as crianças, as histórias assumem um importante papel afetivo, pois despertam o interesse e a imaginação”, diz a especialista.
Além disso, as crianças podem relacionar os acontecimentos das personagens às experiências pessoais. Afinal, falar da personagem e não de si mesma é uma estratégia importante, pois pode favorecer a representação de suas emoções uma vez que esse processo diminui a carga emocional da experiência vivida.
Quais tipos de livros podem ser usados para estimular a aprendizagem das competências socioemocionais?
Todos os livros podem ser uma boa oportunidade para provocar emoções, reflexões e aprendizagens. As histórias por si só, naturalmente, promovem o desenvolvimento de diversas competências socioemocionais.
Em “A lebre e a tartaruga”, por exemplo, os dois animais entram em uma competição de corrida. A lebre, ao ver que poderia facilmente ganhar, resolve tirar um cochilo no meio da atividade. Sem que ela perceba, a tartaruga cruza a linha de chegada, mesmo com seus passos pequenos e lentos. Nessa história, é possível trabalhar e estimular a persistência, a determinação e o foco das crianças.
Também existem narrativas que são pensadas por seus autores para trabalhar diretamente com uma ou outra emoção: o livro “História de Chuva para Acabar Com o Medo (Dela)”, de Luciene P. Tognetta, é um bom exemplo.