É preciso ensinar os jovens a desconfiar de impressões iniciais, a não fazer generalizações e a tomar decisões com base no maior número possível de informações
Os seres humanos são seres sociais, o que significa dizer que vivemos em grupo. Ao conviver com outras pessoas, acabamos, inevitavelmente, sendo influenciados de alguma forma. De acordo com Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente, isso é absolutamente normal e, a princípio, nada tem de problemático.“Muitas vezes, uma criança quer se vestir de uma determinada forma ou falar de um determinado jeito porque é a maneira como o grupo a que ela pertence valoriza a fala ou a roupa. Isso é absolutamente natural. Começa a se tornar um problema quando a criança ou o adolescente vê um determinado comportamento num grupo relativamente pequeno de pessoas e generaliza aquilo para o ‘todo mundo faz isso, todo mundo é assim, então vou ser também’”, diz o professor.Calbucci explica que essa postura está associada ao “viés da disponibilidade”. Quando vamos tomar decisões, costumamos valorizar as informações que vêm à nossa cabeça mais facilmente, aquelas que estão disponíveis. Por exemplo, se perguntarmos quem ganha mais no Brasil – um jogador de futebol ou um professor de uma universidade pública – a tendência é que a maior parte das pessoas responda que é o jogador de futebol. Porém isso não é verdade. Professores universitários chegam a ganhar, em média, cinco vezes mais do que um futebolista. Acontece que a maior parte das notícias que nos chegam é sobre jogadores que ganham muito. Mas isso é exceção. Por outro lado, as informações que recebemos com mais frequência sobre professores, sobretudo da educação básica, lembram seus salários baixíssimos. Professores universitários são mais bem remunerados.“Então, quando vou rapidamente responder uma questão como essa, eu pego as informações que estão disponíveis. Imagina o risco disso quando o adolescente está em um determinado grupo e quatro ou cinco amigos dele fazem uma determinada coisa. Ele pode achar que todo mundo faz”, explica.O professor dá como exemplo uma situação hipotética de um adolescente que tem a oportunidade de usar drogas. “O argumento do jovem seria o de que todo mundo está usando. Mas essa generalização faz com que se naturalize um comportamento que não é, necessariamente, um comportamento dominante na sociedade”.Segundo Calbucci, é preciso ensinar os jovens a desconfiar do “viés da disponibilidade”, ou seja, das impressões iniciais que temos. “No Programa Semente, nós os orientamos a questionar sempre sobre se têm todas as informações para tomar uma decisão antes de fazer qualquer tipo de generalização”, diz“Quando a criança é pequena, a mãe ou o pai podem falar: você não é todo mundo, você não vai fazer tal coisa. Mas, uma hora, o jovem vira adulto, e é preciso dar autonomia para as pessoas, convidando-as para esse tipo de reflexão. Afinal, elas é que vão tomar as decisões mais importantes sobre as próprias vidas”.