Por meio da socialização com outras crianças, os indivíduos aprendem práticas de boa convivência e consolidam amigos para a vida
Ter amigos é importante em todas as fases da vida. Esse tipo companhia, além da família, proporciona momentos especiais, vivências diferenciadas e uma base indispensável para o bem-estar emocional e a saúde mental. Somos seres sociais, dependentes da interação com outras pessoas.
A formação de laços e afinidades com outros indivíduos começa na infância, quando a criança é exposta a rostos que não estão presentes em seu lar. A partir desse convívio, os pequenos trabalham, naturalmente, diversas competências socioemocionais, que permanecem essenciais na vida adulta e que contribuem para uma boa saúde mental.
O papel da escola e das interações com colegas na infância
“É na escola que, geralmente, as crianças começam a experimentar interações entre iguais e de caráter coletivo, uma vez que, em casa, as relações centralizam-se somente nos interesses e nas crenças dos integrantes da família”, explica Sandra Dedeschi, autora do Programa Semente e mestre em Psicologia Educacional.
Logo, frequentar a escola possibilita que a criança reconheça a existência dos outros, expandindo seus pensamentos. Os indivíduos de dois a seis anos de idade passam, nesse contexto, por um processo bastante característico do que chamamos de descentração dos próprios pontos de vista, coordenando-os com os alheios. Assim, constroem-se aspectos cognitivos, sociais, morais e afetivos, que seriam muito mais restritos se o sujeito estivesse isolado.
“Sem sombra de dúvidas, as interações sociais vão favorecer o desenvolvimento das crianças, que pouco a pouco vão aprendendo a importância de respeitar o outro, expressar-se de forma clara e respeitosa, buscar soluções para seus problemas, sentir confiança naqueles com os quais convive, entre tantas outras habilidades que lhe darão instrumentos para as próximas fases da vida”, completa Dedeschi.
O impacto das amizades
Quanto mais nova, mais egocêntrica tende a ser a criança, pois ela ainda está presa aos próprios interesses e desejos. Conforme interage com indivíduos da mesma idade, ela compreende mais sobre o mundo, respeita vontades e posicionamentos diversos e, ainda, pode formar amizades de longa data.
“À medida que reconhecem a presença dos outros, começam a estabelecer laços de amizade. No início, aproximam-se, mas ainda brincam isoladamente; no entanto, por volta dos quatro ou cinco anos, começam a se relacionar e interagir nas brincadeiras, o que favorece as amizades. Esses laços vão se ampliando e podem se fortalecer ao longo dos anos seguintes”, aponta a profissional.
Nessa perspectiva, vale destacar que a presença ou ausência de amigos pode influenciar em diversos âmbitos da vida de uma pessoa, do particular ao profissional. É importante, portanto, que as crianças estabeleçam boas relações afetivas, valorizando o espaço e tempo dedicados a isso.
Como as amizades da infância ajudam o desenvolvimento socioemocional?
“Podemos entender que a amizade surge nas interações sociais entre pares, ou seja, entre os sujeitos que fazem parte de um grupo social de mesma posição hierárquica, tais como colegas e amigos da escola. Nessas relações, as crianças vivenciam experiências que podem ser prazerosas ou não, uma vez que, devido ao egocentrismo e à heteronomia característicos na idade pré-escolar, ocorrem conflitos interpessoais”, informa Sandra.
Esse quadro é completamente natural e, na prática, são os conflitos que oferecem a oportunidade de aprender a resolver problemas. Observa-se, então, um incentivo espontâneo à aprendizagem socioemocional.
No entanto os educadores também podem propiciar intencionalmente momentos reflexivos, visando a fortalecer as competências socioemocionais infantis quanto às relações interpessoais. Para a profissional, os principais focos são a família da “amabilidade”, composta por empatia, respeito e confiança, além do grupo do “engajamento com os outros”, formado por iniciativa social, assertividade e entusiasmo.
“Além disso, como dissemos, as relações de amizade não são prazerosas o tempo todo e as crianças passarão por momentos de desequilíbrio nas interações, que geram emoções desagradáveis. Assim, a família da ‘modulação emocional’ também é mobilizada, pois em muitos momentos precisarão lidar com a regulação de emoções como a tristeza, a raiva e o medo”, finaliza Dedeschi.