Adolescentes precisam ser convidados a refletir sobre as consequências de suas ações; controlar impulsos em nome de um benefício maior a longo prazo é algo que pode ser ensinado
No processo de desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, é comum os pais pensarem em estratégias para tentar pavimentar um caminho que seja o mais tranquilo possível para os filhos, o que pode levar a atitudes de superproteção.
Para Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente, apesar de esse desejo ser compreensível, é importante considerar que, a partir da adolescência, é o jovem quem vai fazer suas próprias escolhas. “Questões importantes da vida dele – como se vai experimentar álcool ou quando iniciar a vida sexual – são decisões absolutamente individuais, e não há como os pais terem controle sobre isso”, afirma. Nesse contexto, surge a questão: como podemos prepará-los para tomar essas decisões da forma mais responsável possível?
Calbucci explica que é possível aprender a fazer escolhas e que esse é um dos principais fatores para desenvolver a autonomia. Um ensinamento importante é conseguir ponderar a diferença entre recompensas de curto prazo e longo prazo. Até mesmo para adultos esse aprendizado não é fácil. Ele dá um exemplo: “Imagine alguém que começou um programa de reeducação alimentar e tem a oportunidade de comer um doce. Claro que a recompensa a curto prazo vai se boa. Mas quanto isso pode atrapalhar o plano futuro?”.
Segundo ele, abrir mão de uma coisa boa a curto prazo em nome de um benefício maior a longo prazo é algo que pode ser aprendido. “No entanto, não é preciso exagerar e dizer que nunca poderá comer um doce”, observa. “O que a gente procura ensinar as crianças é que, se acontecer só uma vez, provavelmente o prejuízo não vai ser tão grande assim, mas, se aquilo se torna um hábito, aí os danos podem ser significativos”.
Para o professor, convidar os jovens para esse tipo de reflexão os leva a perceber que é possível tomar essas decisões, controlar esses impulsos e estabelecer planos de longo prazo para atingir metas. Outro ponto importante, segundo ele, é o jovem não se deixar guiar pela opinião dos outros, achando que determinada postura ou comportamento é dominante na sociedade como um todo, o que também pode levar a escolhas equivocadas.