Suporte da família é essencial para que se sintam seguras e confiantes nesses momentos de transição e enfrentem com mais tranquilidade os novos desafios
Em alguns momentos da vida escolar, as crianças e os adolescentes vivem as transições de etapas, como a passagem da Educação Infantil para o 1º ano do Ensino Fundamental e dos Anos Iniciais para os Anos Finais do Fundamental. Esses acontecimentos costumam ser grandes marcos na vida das crianças. Mas, como toda mudança, esses períodos podem ser delicados e despertar certa insegurança, tanto nos estudantes quanto em suas famílias.
Isso porque eles representam mudanças significativas na rotina, no ambiente, nas relações e nas exigências pedagógicas. As crianças saem de uma rotina e espaço com os quais já estão familiarizadas para contextos mais estruturados e com novas expectativas. “Dessa forma, acaba interferindo no sentimento de pertencimento, na segurança emocional e na confiança nas próprias capacidades”, aponta Sandra Dedeschi, mestre em Psicologia Educacional e diretora de conteúdo na Plataforma Semente.
Segundo ela, esse é um processo natural que pode acionar o medo, afinal, estar diante do novo pode despertar a preocupação e a ansiedade, que são estados dessa emoção. No entanto, é possível pensar em formas de lidar com essas emoções e procurar vivenciar esse momento de passagem com mais equilíbrio.
Desafios emocionais dos alunos
A diretora de conteúdo da Plataforma Semente explica que, na transição para o 1º ano, os desafios emocionais incluem a separação de figuras de referência já conhecidas, como os professores, o receio do desconhecido e uma certa pressão por estar crescendo. “É comum crianças da Educação Infantil mudarem para escolas maiores, às vezes para unidades da mesma instituição, mas isso acaba gerando certa ansiedade e angústia, principalmente nos familiares”, comenta.
Já na passagem do 5º para o 6º ano, os alunos enfrentam outras questões, como ter múltiplos professores, maior carga de aulas, novas regras e, assim como os menores, mudança de escola ou unidade. Isso pode gerar insegurança, medo de não corresponder às expectativas e preocupação em criar novos vínculos.
Para os pais, assim como para seus filhos e filhas, pode surgir a ansiedade, o medo de que os filhos não se adaptem às mudanças ou dúvidas sobre como melhor apoiá-los.
Como as famílias podem acolher as angústias dos filhos
Ainda que para os pais esses momentos também sejam emocionalmente exigentes, é importante que eles e a escola possam contribuir para uma transição mais leve e tranquila. Sandra cita algumas dicas práticas para isso:
- Escute com atenção: crie momentos para que a criança fale sobre os seus sentimentos sem se sentir julgada. É importante incentivar espaços de diálogo para que ela possa manifestar suas incertezas e angústias.
- Valide as emoções: mostre para a criança que entende como legítimo o que ela sente e demonstre isso por meio da comunicação. Diga, por exemplo, “compreendo que você está com medo por ser o primeiro dia. É normal nos sentirmos assim quando há uma mudança”.
- Explore as novidades: principalmente com as crianças pequenas, abordar algumas das mudanças pode ajudar a diminuir a ansiedade. Por exemplo, mostre o novo caminho e a leve para a visitar a nova escola ou unidade, apresentando algumas pessoas que farão parte do seu cotidiano.
- Organize a rotina: mantenha a organização e a rotina diária, pois oferecem segurança e previsibilidade, aspectos fundamentais em momentos de mudança.
- Incentive a autonomia: estimule a criança a resolver pequenos desafios por si mesma, demonstrando confiança na sua capacidade. Apoie sempre, conforme a idade, mas procurando fortalecer a independência.
- Favoreça o entusiasmo: procure enaltecer as emoções positivas que podem estar presentes em diversas situações desse período. Por exemplo, ver a passagem para o novo prédio ou para a nova escola como uma conquista a ser comemorada.
Importância do apoio dos pais
A especialista reforça que o suporte da família nesse contexto é fundamental para que a criança se sinta segura e confiante. “Saber que tem um porto seguro, onde é ouvida e compreendida, ajuda a enfrentar com mais tranquilidade os desafios das novas etapas. O envolvimento ativo, o encorajamento e a presença fortalecem a resiliência das crianças.”
Ela lembra que essas ações, que podem amenizar a ansiedade e a preocupação no período de adaptação ao novo segmento, são benéficas não somente nas primeiras semanas em um novo segmento, mas ao longo de todo o ano. “É muito valioso fazer-se presente e demonstrar cuidado sempre.”
Também é preciso ter clareza da relevância da parceria entre a escola e a família. “Cada uma com seu papel, devem manter um olhar atento para identificar dificuldades naturais que podem surgir ao longo do ano. Um bom caminho é a família compartilhar suas observações e angústias para que, juntos, possam buscar as melhores opções de encaminhamento.”