Retomada do desenvolvimento das habilidades interpessoais exige trabalho em conjunto e ressignificação de aprendizados adquiridos com os desafios da pandemia
Como as escolas podem resgatar, de maneira saudável e criativa, o convívio entre estudantes, estimulando o desenvolvimento de suas habilidades interpessoais após longos períodos de isolamento social? É possível fazer do medo uma escada, como no livro O Encontro Marcado, do escritor Fernando Sabino?
Mais do que o processo pedagógico em si, as aulas presenciais se tornaram um verdadeiro balizador dos desafios que escola, pais e alunos precisarão enfrentar juntos a partir de agora.
Neste momento, mais do que nunca, é necessário trabalhar para reconstruir habilidades interpessoais, como empatia, respeito e iniciativa social, que estavam em pleno desenvolvimento e foram pausadas, e para ressignificar emoções desgastadas por perdas em diversos âmbitos, contribuindo para regular sua intensidade de modo que voltem a fluir construtivamente.
A convivência no ambiente escolar e fora dele foi rompida por um grande espaço de tempo e dentro de um cenário extremamente adverso. De repente, o mundo parou e passou a ser visto como um local ameaçador. Diante da pandemia, a casa virou o único refúgio e representação de segurança.
Mas o confinamento, em muitos casos, trouxe prejuízos à saúde mental e ao comportamento dos mais jovens. Um universo considerável de crianças e adolescentes têm apresentado sinais de medo, introspecção, angústia, ansiedade, irritação e, não raro, vêm desenvolvendo fobias como síndrome da cabana, agorafobia ou coronofobia.
Como o convívio fortalece as habilidades interpessoais?
Há uma nova realidade sendo construída e pensar como antes pode gerar sofrimento. Então, como aprender a conviver daqui para frente?
“O primeiro passo é desconstruir algumas ideias, ou seja, mostrar o outro lado delas, sem, no entanto, minimizar a questão. Por exemplo, usar álcool em gel ou lavar as mãos com frequência, ao invés de ser uma fonte de tensão, deve ser entendido como bons hábitos de higiene que precisamos ter durante a vida. A máscara é um recurso atual que utilizamos para nossa proteção e daqueles que estão ao nosso redor, podendo ser vista como mais uma regra de segurança, assim como tantas outras que temos no ambiente escolar”, diz Sandra Dedeschi, educadora, mestre em psicologia educacional e autora do Programa Semente.
“Quando se trata da convivência, distanciamento físico é diferente de distanciamento social. As crianças não vão tocar umas nas outras, mas podem interagir e se divertir ao brincar de bambolê, amarelinha, pular corda, desenhar ou contar histórias. No caso de adolescentes, abrir espaços de fala e escuta, como rodas de conversa, ajudará na troca de experiências e na socialização”, acrescenta.
Para Sandra, pais e educadores têm papel fundamental nesta fase de adaptação a uma nova realidade, sabendo reconhecer, respeitar e acolher as emoções de crianças e jovens. Muitos, inclusive, passaram por processo de luto ou estresse pós-traumático e podem requerer suporte adicional de especialistas da área da saúde. Daí a importância de não subestimar, julgar ou negar a situação.
“Todos temos enfrentado momentos delicados. Precisamos de união, compreensão, fortalecimento dos vínculos e de recursos socioemocionais. A escola está novamente aberta para reencontros, aprendizagem ativa e, por meio de ambiente acolhedor, motivacional e facilitador, novos caminhos poderão ser trilhados”, conclui.