A verdadeira contribuição dos pais não se limita a oferecer boa educação formal ou vários cursos, mas a ensinar seus valores por meio de exemplos
Todas as famílias anseiam que seus filhos alcancem uma vida repleta de realizações e momentos felizes. Mas, para proporcionar o máximo de oportunidades para que as crianças e os adolescentes se desenvolvam em toda a sua plenitude, a educação deve transcender o aspecto cognitivo e incluir também outras aprendizagens.
Ronaldo Carrilho, professor de física, diretor e gestor de conteúdos da Semente Educação, afirma que a melhor maneira dos pais prepararem os filhos para o futuro é dar condições para que eles desenvolvam a capacidade de adaptação às rápidas mudanças que estão por vir. “Alguns especialistas já indicam que pessoas nascidas neste século terão mais do que uma profissão ao longo da vida. E algumas dessas profissões nem existem ainda”, pontua.
Nesse sentido, a formação deve dar conta dessa maleabilidade, dessa flexibilidade cognitiva e emocional, pois o investimento não está só na educação formal relacionada às disciplinas tradicionais do ambiente escolar. “A educação deve ser muito mais ampla do que preparar nosso filho ou filha para entrar na faculdade e conseguir um ‘bom emprego’”, salienta. “Não que isso não seja uma etapa importante na jornada da pessoa, mas há outras “educações” na mesa para serem desenvolvidas.”
As várias dimensões da educação
Entre as várias faces da educação integral, Ronaldo cita a educação relacionada ao respeito ao meio ambiente e aos animais, à prática de hábitos saudáveis, ao estabelecimento de relações sociais sadias, à preservação da saúde física e mental, ao equilíbrio das finanças pessoais, à solidariedade, à compaixão, ao amor à arte, à vivência na pluralidade e na diversidade, à cidadania e à tomada de decisões responsáveis.
Assim, não se pode esperar que a escola dê conta de tudo isso. “Trata-se de um trabalho coletivo da família, da sociedade, do poder público, da escola, dos amigos, da arte. Enfim, todos devem estar prontos a ensinar e a aprender”, ressalta.
Educação da sinceridade e dos exemplos
O diretor diz ser comum que pais e mães se questionem se estão oferecendo os estímulos suficientes à educação de seu filho ou filha, da qualidade da escola à prática de inúmeras atividades extracurriculares, como esporte, línguas e música. Muitos carregam um peso porque não conseguem fornecer financeiramente a educação que eles acham que é bacana.
“Esse é um dilema sensível a qualquer pai, mãe ou responsável. Fora ainda a culpa por estarmos ausentes em muitas horas do dia porque estamos trabalhando. Isso tudo pode dar muita insegurança aos pais, achando que não vão conseguir preparar os filhos para esse futuro”, completa.
Nesse cenário, o que fazer? A resposta dele é direta: dar exemplos, com a maior sinceridade. “Se você não trata bem os animais, como espera que seus filhos irão tratá-los? Se você não é um consumidor responsável, como seus filhos serão? Se você não tem práticas físicas saudáveis, como poderia incentivar seus filhos a tê-las? Se você não tem compaixão com os mais desassistidos, por que seus filhos haveriam de ter?”.
Pais também são seres em construção
Outro ponto importante, segundo Ronaldo, é reconhecer perante os filhos que pais e mães também são seres em construção, com falhas e limites. “Essa é a educação mais eficaz: a da sinceridade, a da humildade, a dos exemplos”, reforça. Ele dá exemplos de algumas situações:
- “Eu não sou capaz de reconhecer beleza no tipo de música que você ouve. Mas, aceito suas escolhas.”
- “Eu não tive controle financeiro em uma fase da minha vida e isso prejudicou a todos nós. Espero e luto para que você seja mais empenhado do que eu nesse aspecto.”
- “Eu não fui empático com você, minha filha, e não percebi que você estava realmente angustiada com o rompimento daquela amizade. Te peço perdão”.
Ele diz que a educação observando as competências socioemocionais é sempre um bom caminho a ser apontado. Mas, a educação com prática. “Como pedir respeito sem respeito? É preciso confiar para pedir confiança. É preciso mostrar os benefícios do foco, da organização, da determinação. Comemorar as vitórias e relativizar as derrotas. Indicar o lado bom do medo e da tristeza. É preciso dar bons exemplos de iniciativa social. É necessário se sensibilizar com um filme, com uma música”, acrescenta.
Para ele, se queremos mudanças, elas devem começar por nós mesmos. “Não podemos simplesmente reproduzir o modelo educativo dos nossos pais. “Sim, há bons exemplos dessa educação e, sempre que possível, devemos preservá-los. Mas, para um mundo em constantes e rápidas mudanças, nós, pais e mães, temos que ser mais adaptativos. Ninguém nos ensinou a sermos, mas cabe a nós a iniciativa de ensinar.”