Conflito entre gerações começaram a ser documentadas no final da Segunda Guerra Mundial e se popularizaram no século XX. De lá pra cá, certas expressões e ou mesmo letras do alfabeto vêm servindo de marcadores para criar e reafirmar a identidade de uma geração (Z, Y, X, baby boomers), marcando os momentos em se alteram crenças, valores e comportamentos das pessoas em sociedade.
Estereótipos à parte, conflitos geracionais sempre existiram. Mas o fato é que eles têm ganhado uma dimensão maior com as redes sociais, levando a cancelamentos, ofensas, confusões e, muitas vezes, ruptura de vínculos importantes.
Em seu livro Fault Lines: Fractured Families and How to Mend Them ("Falhas tectônicas: famílias fragmentadas e como reuni-las", em tradução livre), o professor de desenvolvimento humano da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, Karl Andrew Pillemer, apresenta um dado preocupante: um a cada quatro norte-americanos relata quebra de vínculo com algum familiar por conflitos.
Pesquisas no Reino Unido também apontam que o fenômeno atinge uma a cada cinco famílias, enquanto na Austrália e no Canadá, cientistas comportamentais dizem observar uma ´epidemia silenciosa´ de rompimentos familiares por divergências que poderiam ser solucionadas à base do diálogo.
Como lidar com valores distintos entre as gerações sem precisar cortar vínculos?
O mundo está em constante mudança e especialistas são unânimes em afirmar: limitar uma pessoa
a uma época, uma letra do alfabeto, uma faixa etária, renegando sua história, é uma forma de preconceito e exclusão que necessita ser combatida, afinal as diferenças constituem uma enorme possibilidade de aprendizagem a todos.
Para a psicóloga, pedagoga e gerente editorial do Programa Semente, Ana Carolina D´Agostini, trabalhar o autoconhecimento e regular as emoções ajuda a lidar com situações conflitantes e a cultivar uma boa convivência entre gerações. Da mesma forma, desenvolver habilidades socioemocionais, como flexibilidade, tolerância, respeito à diversidade, empatia e curiosidade, favorecem a escuta, o diálogo, a comunicação
não violenta e o fortalecimento de vínculos.
“Se, em uma conversa, eu não concordo com um ponto de vista, ao invés de ser impulsivo, impor minha opinião e gerar tensão, posso me abrir ao novo e fazer perguntas, na tentativa de compreender o repertório do outro, suas crenças, padrões, pensamentos e sentimentos. É como partir para a outra margem do rio sem, no entanto, ter que ficar naquele lugar”, comenta Ana.
“Por outro lado, quando não me sinto bem com determinadas colocações, que me ferem, posso adotar várias estratégias sem necessariamente entrar em conflito, como respirar fundo, pedir um tempo
ou mencionar claramente as emoções que certos posicionamentos despertam em mim e o que penso em relação a eles”, complementa.
Como diz a canção de Lenine: ´A gente espera do mundo e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência’.