Vítima precisa ser acolhida e agressor punido, mas fato pode ser transformado em situação de aprendizado e reflexão
Os adolescentes de hoje são nativos digitais, ou seja, foram criados num mundo em que as tecnologias de comunicação e as redes sociais sempre fizeram parte do seu cotidiano. Assim, relações interpessoais e comportamentos que anteriormente estavam restritos à interação face a face se transferem para o ambiente virtual.“Essa situação pode trazer consequências perigosas, porque as pessoas acabam dizendo no mundo virtual coisas que dificilmente falariam no mundo real”, diz o professor Eduardo Calbucci, um dos fundadores do Programa Semente. “Isso significa que o bullying pode se tornar ainda mais perverso, violento e agressivo”.De acordo com o professor, é preciso mostrar para os jovens que, embora o ambiente seja virtual, as pessoas são reais e os efeitos dessa violência e, eventualmente, as punições também ocorrem no mundo real. “É importante que se diga isso para que o mundo digital não se torne uma espécie de salvo-conduto para atitudes agressivas. É até mais grave fazer uma ofensa na internet do que pessoalmente, porque deixa rastro e mais gente pode ver aquilo. Uma pessoa pode ter a vida completamente destruída por causa disso”.Segundo Calbucci, é necessário ensinar os jovens a usar o mundo digital de forma responsável e cabe à escola discutir essas questões, pois elas são relevantes e fazem parte do mundo dos alunos. “Se a escola não aborda isso, ela está se distanciando do universo de referência dos estudantes. O melhor modo de evitar o cyberbullying é tratando do tema.”
O que fazer em casos de cyberbullying?
Uma vez que uma situação como essa ocorre, as medidas que vão ser tomadas dependem da gravidade do fato e da idade da pessoa que cometeu o bullying, pois, dependendo da gravidade, pode haver até consequências penais. Para o professor, a escola deve acolher a vítima, protegê-la e confortá-la, até para que ela não tenha aquela reação que acontece às vezes, de se sentir culpada pelo que aconteceu.Em relação ao agressor, a escola pode dar alguma punição a esse aluno de acordo com seus critérios pedagógicos. “No entanto, é importante considerar que as pessoas cometem erros e todos podem se arrepender e aprender com eles. O sentimento de culpa e o arrependimento podem até ter efeito didático. Não dá para passar a borracha no que aconteceu, mas, se foi transformado num aprendizado, teve algum aspecto positivo”, destaca Calbucci.Outro ponto importante levantado pelo professor é que, às vezes, a reação dos pais perante essa situação pode ser a de estimular ainda mais a agressividade e o punitivismo. “A escola deve ser colocar como um espaço de resolução pacífica de conflitos, de diálogo e de reflexão. Isso não significa que o agressor não tenha que receber nenhum tipo de punição. Mas a punição por si só não tem poder de mudar mentalidades e evitar que esses casos se repitam”, finaliza.