Para interações mais saudáveis, é essencial que as diferentes gerações familiares saibam respeitar-se e colocar-se no lugar dos outros
A relação entre netos e avós conecta gerações distintas e pode ser extremamente enriquecedora. Os que têm a oportunidade de conhecer seus ascendentes podem guardar memórias especiais, como o contato com tradições familiares, receitas que passaram de geração em geração, brinquedos e objetos de outras décadas, além de histórias divertidas.
“Em relações familiares próximas, a gente costuma ter uma intimidade que pode favorecer tanto o vínculo afetivo, quanto os conflitos, dada a convivência mais intensa”, explica Ana Carolina D’Agostini, psicóloga e gerente de conteúdo do Programa Semente. Logo, para a dinâmica entre netos e avós ser preservada, é preciso uma atenção especial para as competências da família da amabilidade: respeito, empatia e confiança.
As competências da família da amabilidade
Para compreender a conexão entre as competências da amabilidade e as relações familiares, é interessante ter um olhar voltado para o significado de cada uma delas. Confira as definições, apresentadas por D’Agostini:
Respeito – é a combinação de dois princípios: tratar os outros gostaríamos de ser tratados e não tratar os outros como não gostaríamos de ser tratados.
Empatia – colocar-se no lugar do outro, demonstrando capacidade de entrar na dor, no sofrimento ou na alegria da outra pessoa.
Confiança – capacidade de desenvolver expectativas positivas em relação às pessoas importantes em sua vida.
A relação dos netos e avós
Indivíduos que cresceram em épocas distintas podem ter visões de mundo contrastantes e hábitos opostos. Daí a importância de trabalhar o respeito, a empatia e a confiança. “O respeito, por exemplo, pode ter um significado diferente para netos e avós. Aí, entra a necessidade da empatia de ambos os lados”, aponta a psicóloga. Quando se colocam no lugar do outro, os parentes entendem que certas atitudes, por mais que pareçam estranhas, não carregam uma intenção ruim.
“Já a confiança é especialmente importante porque faz com que os netos acreditem que as atitudes e palavras dos avós em relação a algum aprendizado são importantes para o crescimento deles”, completa.
Como trabalhar as competências de amabilidade na sala de aula
Há diversas formas de trabalhar as competências da amabilidade dentro da sala de aula. “Uma maneira de fazer isso é ter combinados coletivos. Então, o educador pode propor alguns acordos para aquela aula fluir bem, para que o ambiente seja saudável e respeitoso para todos, permitindo que os estudantes também sugiram outros combinados”. Essa organização, por envolver todas as pessoas da classe, faz com que os indivíduos se sintam partes e autores do que vai acontecer, estimulando respeito e confiança.
Outra estratégia é por meio de personagens históricos ou da literatura. Analisando acontecimentos do Brasil e do mundo, o professor pode trazer a discussão sobre em quais momentos faltou respeito, empatia e confiança, ou em quais situações essas competências estiveram presentes.
A terceira forma indicada pela educadora é incentivar os estudantes a escutar a perspectiva do outro, estimulando, principalmente, a empatia. Ao se colocar no lugar daquele indivíduo, é possível entender as razões dele para suas ações e pensamentos. O resultado trará interações mais saudáveis e cordiais. “É importante que a pessoa aprenda que pode discordar, mas que estará discordando de ideias, e não de pessoas. Isso é uma forma de agir com empatia”.
Os debates em sala de aula, por exemplo, entre duas perspectivas diferentes, são mais uma alternativa interessante. Nesses exercícios, os professores devem orientar os estudantes a terem uma postura assertiva, evitando um comportamento agressivo ou passivo. Assim, em suas falas, os jovens demonstram respeito e expõem suas opiniões sem ofender o próximo.
“Uma outra dica bastante interessante que faz parte do material do Programa Semente é ensinar a comunicação não violenta. É importante que os alunos aprendam essas técnicas não somente na hora de resolver um conflito. Assim, quando estiverem enfrentando algum problema com um colega ou algo coletivo, eles podem identificar qual a necessidade humana que está sendo compartilhada entre as partes e aquela que não está sendo atendida”, indica Ana Carolina.
O impacto para as relações entre avós e netos
Em suma, as competências socioemocionais, trabalhadas em sala com o Programa Semente, são levadas para o cotidiano dos estudantes. Com a empatia, o respeito e a confiança bem desenvolvidos, as crianças e adolescentes administram relações mais saudáveis com as suas famílias e evitam conflitos e brigas. Mas, também é importante que os próprios avós saibam trabalhar essas habilidades, para escutar e respeitar os mais jovens, olhando os pontos positivos das diferenças entre gerações.