Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,4% da população brasileira acima de dois anos – o que representa 17,3 milhões de pessoas – tem algum tipo de deficiência. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019.
O decreto presidencial que institui a nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE), estimulando o retorno das escolas especiais para pessoas com deficiência, acende um alerta sobre segregação, que é um retrocesso para a educação inclusiva.
Para a pedagoga e autora do Programa Semente, Fabiene Ramos, a homogeneidade destrói diferenças valiosas e fundamentais às práticas pedagógicas dos educadores e ao processo de aprendizagem dos alunos. É na diversidade que surgem ideias, escolhas, oportunidades, avanços.
Para chegar ao topo da montanha e vislumbrar o horizonte, há vários caminhos. Se a estrada só fosse reta, não seria possível contemplar as belezas das sinuosas trilhas e diferentes paisagens que conduzem ao cume.
Educação inclusiva: habilidades socioemocionais fortalecidas
A educação inclusiva, incentivada há décadas nas escolas regulares, visa a promover a pluralidade, em que crianças e jovens aprendem juntos com as diferenças, adquirem repertório e desenvolvem habilidades socioemocionais importantes para o convívio em sociedade, como respeito, empatia, iniciativa social, confiança, responsabilidade, entusiasmo e assertividade.
“A escola precisa investir na formação contínua de professores, no planejamento das aulas, em estratégias diversificadas e serviços de apoio, muitas vezes com uma equipe multidisciplinar, para oportunizar experiências, a partir de um olhar sensível sobre os estudantes – suas emoções, pensamentos, ações –, sempre rompendo com o paradigma de que todos aprendem e evoluem no mesmo ritmo, de maneira padronizada”, diz Fabiene.
Ela cita as palavras da pedagoga brasileira Madalena Freire: “um grupo se constrói no espaço heterogêneo das diferenças entre cada participante: da timidez de um, do afobamento do outro; da mudez de um, da tagarelice de outro; dos olhos miúdos de um, dos olhos esbugalhados do outro; da lividez de um, do encarnado do rosto do outro. Um grupo se constrói enfrentando o medo que o diferente, o novo provoca, educando o risco de ousar”.
Fabiene pontua ainda que “pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades ou superdotação devem ser acolhidas por seus colegas, professores e pela comunidade escolar não com piedade, mas percebendo uma enriquecedora possibilidade de troca e de identificação de potencialidades”.
Segundo a pedagoga, a mudança começa quando passamos a reconhecer o ser humano que está ao nosso lado: “repleto de sonhos, metas, conflitos, realizações, desafios e superações. Isso é o que verdadeiramente nos conecta, nos impulsiona e nos complementa, ao invés de separar”.