O uso prolongado de dispositivos digitais, além de afetar o sono e favorecer o sedentarismo, pode prejudicar as relações interpessoais e as habilidades sociais
A exposição excessiva às telas tem se transformado em um hábito cada vez mais presente na vida das pessoas. As crianças e os adolescentes de hoje nasceram e cresceram em um mundo digital e sequer conseguem imaginar como era a vida sem internet, celular, tablets e computadores. Além disso, o ensino remoto, devido à pandemia, intensificou ainda mais o uso desses dispositivos digitais.
“Mas, apesar de oferecerem acesso à educação, à informação e ao entretenimento, a exposição prolongada às telas apresenta riscos diversos para a saúde e para o desenvolvimento sociocognitivo”, alerta Ana Carolina D’Agostini, gerente editorial do Programa Semente.
Pelo fato de o uso das telas envolver quase sempre atividades sedentárias, há risco de maior propensão à obesidade. Também pode levar a distúrbios de sono, como a insônia, pois a luz emitida pelas telas é interpretada pelo cérebro como um sinal para permanecer alerta.
“Os efeitos de uma noite mal dormida vão muito além do cansaço, pois diminui a capacidade de concentração e afeta a qualidade de vida, inclusive o ânimo para se exercitar”, explica a gerente.
Exposição excessiva às telas também pode afetar relações
Ela aponta que, nas relações familiares, o excesso de tempo dedicado às telas também pode prejudicar o vínculo entre as pessoas, pois o contato e as conversas acabam sendo reduzidos tanto no tempo como na qualidade. “O tempo de exposição excessivo às telas afeta as habilidades interpessoais e a iniciativa social, uma vez que a comunicação pode acontecer quase que exclusivamente por essa via, aumentando a desconexão social.”
Segundo Ana Carolina, não são somente as crianças e adolescentes que passam tempo excessivo nas telas. Muitos pais e educadores também têm dificuldade em colocar limites saudáveis para o próprio uso.
Por isso, é importante limitar a quantidade de horas que será dedicada aos dispositivos eletrônicos criando regras para o convívio. Pais e escolas podem criar normas compartilhadas com seus filhos e estudantes, como não usar o celular durante as refeições, por exemplo, e pensar em atividades que não envolvam a tecnologia.
“Mesmo em tempos de pandemia em que as telas se transformaram no principal meio de trabalho e aprendizado, é importante ter esse cuidado pelo bem da saúde física, emocional e das relações pessoais”, afirma. “O fato é que quando estamos conectados aos nossos telefones celulares, estamos menos presentes em relação a aqueles que estão próximos de nós fisicamente.”
O papel do desenvolvimento socioemocional nesse processo
Como a pandemia impôs o uso das telas como uma via de acesso à educação, ao trabalho e ao contato social, ela diz que, no retorno das atividades presenciais, será preciso não somente readaptação, mas também lidar com as consequências no processo de aprendizado e na socialização de crianças e adolescentes.
“Assim como será importante retomar conteúdos acadêmicos, será necessário trabalhar o vínculo entre a comunidade escolar, fazer rodas de conversa sobre temas significativos e focar a atenção nos aspectos socioemocionais.”
Nesse processo, a aprendizagem socioemocional pode ser uma importante aliada, pois será preciso trabalhar e incentivar o desenvolvimento de competências diversas. “A autogestão vai ajudar a cumprir objetivos pessoais de curto e de longo prazo.
A sensibilidade estética, a construir significados para tudo o que foi vivido nesse período, com a ajuda da literatura, da música, da poesia e da arte. A amabilidade nos auxilia quando praticamos a empatia, o respeito ao que foi vivido por cada um. E a confiança que temos uns nos outros será importante para passarmos juntos por tudo isso.”