Período é bom momento para estreitar os laços familiares, desenvolver a curiosidade, a criatividade e a organização e ainda ressignificar os espaços domésticos
As férias de julho exigem dos pais e responsáveis uma maior atenção com os filhos que não estarão mais ocupados com as atividades escolares -- híbridas ou remotas -- nesse período. Nesse contexto, o que as famílias podem propor às crianças para reduzir a exposição às telas, fortalecer os vínculos familiares e, ao mesmo tempo, potencializar habilidades socioemocionais, como curiosidade e criatividade?Ronaldo Carrilho, professor e um dos autores do Programa Semente, diz que há uma série de fatores que acabam influenciando nessa decisão: a condição econômica da família, o local onde mora, se os pais vivem juntos ou separados, quantos filhos têm e a faixa etária deles. “Tudo isso vai promover ações distintas, pois não há uma fórmula que vale para todos. Cada um tem que ver a sua realidade”.Como pai de duas meninas gêmeas de 6 anos de idade, ele sugere algumas atividades e lembra que, às vezes, as crianças estão de férias, mas os pais não, o que pode dar uma sensação de culpa -- o que é muito natural -- por não conseguirem se dedicar aos filhos tanto quanto gostariam. “É muito difícil manter a rotina de trabalho em casa com os filhos livres em tempo integral. E não há pai ou mãe que vai ter criatividade suficiente para entreter os filhos e deixá-los longe de TV, computador e celular por 30 dias”, pondera.
Dicas de atividades
Para as crianças que estão em fase de alfabetização, uma atividade interessante é propor a escrita de pequenas histórias, que podem compor um livrinho. “Pais e filhos podem brincar de redator e ilustrador. A criança redige a história, e o pai ou a mãe ilustra, ou o contrário. Isso desperta criatividade no texto e no desenho, e não tem certo e errado. O que importa é deixar a criança usar a imaginação”, destaca o autor.A tradicional contação de história também pode ser uma boa opção, segundo ele. Mas, assim como na brincadeira de redator e ilustrador, é importante haver a troca, uma troca de papeis, em que os pais contam uma história, mas a criança também ocupa essa função. “Contar histórias é uma maneira de organizar as ideias, fazer escolhas de palavras e desenvolver a criatividade”, ressalta.Na mesma linha, vêm brincadeiras clássicas, como mímica, que pode ser de nomes de objetos, animais, profissões, filmes ou pessoas, e jogos de adivinhações, como “o que é, o que é”, que exigem a elaboração de perguntas para tentar descobrir o que a pessoa está pensando. Já os jogos de tabuleiro, como dama, xadrez e detetive, entre outros, além do aspecto lúdico, permitem desenvolver o raciocínio lógico. “Outra brincadeira que gosto de fazer com as minhas filhas é caça ao tesouro, em que vou dando pistas escritas que elas têm que decifrar”, conta Ronaldo.Atividades manuais com o uso de tinta, cola, glitter e materiais recicláveis para construir objetos e brinquedos, como robôs e carrinhos, também são indicadas. “Ao longo da brincadeira, podemos aproveitar para conversar sobre o quanto de lixo produzimos e despertar a responsabilidade ambiental”, orienta. Outra ideia é fazer e empinar pipas, aproveitando os bons ventos de julho, atividade que exercita a imaginação e a sensibilidade estética, entre outras habilidades.
Ressignificando os espaços da casa
O autor ainda lembra que as férias podem ser uma época propícia para ressignificar os espaços da casa. “A sala pode virar quarto ao se fazer uma noite do pijama. E por que não brincar na cozinha ao preparar um bolo ou um lanche com as crianças?”, sugere. “Se eu vou ter que cozinhar, a ideia é dar sentido para aquela prática e inserir os filhos nessa rotina para que eles possam ajudar enquanto vamos dialogando e desenvolvendo habilidades, como a organização.”Outro exemplo que Ronaldo dá é a hora da faxina. “Qual criança não gosta de brincar com água? Então, podemos fazer a limpeza juntos e brincar um pouco. Ao lavar o banheiro, podemos jogar água um no outro, cantar e brincar com os baldes, mas também focar na organização e na determinação. Não vamos sair do banheiro antes de terminar a faxina, pois esse é o nosso compromisso e não podemos desistir. E assim vamos ensinando boas práticas”.Para ele, se a pandemia nos obrigou a dividir de forma intensa nosso tempo e espaço com os filhos, que seja possível estender o olhar e fazer dessas pequenas coisas espaços de aprendizagem de desenvolver habilidades socioemocionais, como modular a raiva e a tristeza e ter empatia.Conheça mais sobre o Programa Semente clicando no link.