Sandra Dedeschi, gerente pedagógica da Semente Educação, dá dicas para os docentes praticarem a escuta ativa no cotidiano escolar
Dentre as muitas formas que um professor pode marcar a vida de suas turmas, a ajuda em momentos desafiadores é um grande destaque. Seja em relação a uma situação que ocorreu na própria sala de aula, seja sobre um problema pessoal, o apoio de um mentor faz toda a diferença para crianças e adolescentes.
Nesse contexto, além de ouvir o que os estudantes têm a dizer, os educadores devem praticar a chamada escuta ativa, interessando-se verdadeiramente pelo assunto apresentado. Essa postura possibilita, inclusive, que os profissionais identifiquem conflitos com os quais a escola e os pais não teriam contato de outra forma.
O que é a escuta ativa?
O processo da escuta ativa, segundo Sandra Dedeschi, autora do Programa Semente, exige alguns cuidados:
• prestar atenção à conversa, observando detalhes na fala e na linguagem corporal;
• repetir pequenos trechos que a pessoa disse, para reforçar que está acompanhando;
• aproximar-se do emissor, por meio do uso de uma linguagem descritiva;
• não fazer julgamentos a respeito da história,.
“Dessa forma, a pessoa se sente acolhida e, por isso, tem desejo de continuar trazendo o próprio ponto de vista. E por que esse processo é tão benéfico? Porque, à medida que ela vai falando, também está pensando sobre o que aconteceu. Isso faz parte de um processo metacognitivo, em que o próprio falante acaba fazendo a análise do que estava contando”, afirma Sandra.
O vínculo entre professores e estudantes
Para tomar a iniciativa de falar sobre seus conflitos, os indivíduos precisam ter liberdade para escolher com quem desejam conversar. Nesse cenário, procuram pessoas confiáveis, que se comunicam de forma respeitosa e assertiva. A convivência diária com o professor possibilita a construção desse vínculo, à medida que ele demonstra, a cada dia, que é digno de confiança.
“Vale destacar que a escuta ativa, por si só, promove o acolhimento e a confiança. Ao perceber que o outro está atento ao que estou dizendo, validando o meu problema, isso permite que eu confie nessa pessoa. Quando esse processo é usado no dia a dia, nas mais diversas situações, o indivíduo vai se sentindo pertencente àquele grupo, e o professor acaba se tornando uma pessoa a quem ele recorre para falar de um problema”, diz Sandra Dedeschi.
Logo, cabe ao educador criar, no cotidiano, um ambiente favorável a essas interações. Assim, quando o estudante estiver desconfortável, sobre qualquer tema, saberá que pode recorrer a ele.
Praticando a escuta ativa no cotidiano escolar
Para os educadores que vão trabalhar isso em sala de aula, a autora reforça algumas dicas:
• realizar boas perguntas;
• usar palavras respeitosas e empáticas;
• promover um trabalho preventivo, com propostas intencionais para falar sobre comunicação e o poder das palavras;
• usar uma linguagem firme, breve e assertiva;
• legitimar o sentimento do outro evitando julgamentos.
“No Programa Semente, por exemplo, existem aulas, desde a Educação Infantil, em que refletimos sobre as palavras que saem da nossa boca. Já nos anos finais do Fundamental e no Ensino Médio, falamos sobre as consequências do uso de palavras no impulso e de estratégias para discordar com respeito. Esse exercício acontece ao longo de toda educação básica, fazendo um trabalho preventivo para a conscientização da importância da comunicação”, diz Sandra.
O papel do professor na identificação e solução de conflitos
Em suma, os educadores são uma peça essencial na prevenção e resolução de conflitos dos estudantes. Problemas coletivos, que envolvem a turma como um todo, como o desrespeito a uma regra do recreio, devem ser comentados com todo o grupo, enquanto os problemas individuais, como um desentendimento entre dois estudantes, precisam ser debatidos em particular.
O professor, ao ver um problema individual, deve propor um diálogo, promovendo um espaço seguro e privado para desabafos. Essas práticas da escola, somadas às técnicas de linguagem, serão benéficas para qualquer relação interpessoal. Então, não apenas o ambiente escolar será mais leve, como também todos os âmbitos da vida daquele estudante.