Não há pesquisa que mostre essa relação; esses jogos e séries, se bem usados, podem ter influência positiva ao estimular o diálogo sobre o assunto
Passar horas jogando videogames ou assistindo a filmes e séries faz parte da rotina de muitas crianças e adolescentes. O que já é uma reclamação comum por parte dos pais ganha um contorno a mais de preocupação quando se trata de jogos e programas que mostram cenas de violência ou abordam temas polêmicos, como o suicídio. Mas será que esses games, filmes e séries podem mesmo influenciar o comportamento dos jovens?Para Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente, não existe hoje nenhum estudo que comprove a relação entre games violentos e posturas agressivas no mundo real. “Há algumas pesquisas, inclusive, que sugerem o contrário”, lembra. “Estabelecer essa relação é um raciocínio perigoso porque é simplificador”.De acordo com ele, a maior parte das pessoas consegue separar a realidade da ficção com facilidade. Ele dá como exemplo os vários filmes de super-heróis que têm feito grande sucesso hoje em dia e que possuem cenas fortes de violência. “Alguém acha que isso pode gerar pessoas violentas?”, indaga. “Até histórias infantis clássicas, como ‘Chapeuzinho Vermelho’ e ‘Os Três Porquinhos’, apresentam momentos de agressividade”.O professor aponta também que a relação entre games e violência aparece a posteriori. “Alguém comete uma atitude agressiva na sociedade, depois se descobre que essa pessoa jogou um jogo que era violento e então se tenta estabelecer uma relação de causalidade”, diz. “O fato é que pessoas agressivas na sociedade podem ou não ter tido contato com jogos violentos”.Em relação ao suicídio, outro tema muito polêmico, o mais importante, segundo Calbucci, é considerar que ele sempre tem uma causa multifacetada. “Isso é consenso entre os especialistas da área de saúde mental. Ninguém tira a própria vida por um único motivo”, afirma.Por isso, Calbucci destaca que séries que abordam o tema podem até mesmo ter efeito positivo ao abrir o debate sobre o assunto. “Um fator que ajuda a prevenir o suicídio e outras doenças mentais é a criança e o jovem sentirem que têm um canal aberto para a comunicação. Séries, filmes e games que partem do universo de referência deles, se bem usados no ambiente escolar, podem servir como elemento de incentivo para o diálogo sobre essas questões”, finaliza.