É importante partir do universo de referência infantil, trabalhar o seu repertório e os processos de autoconhecimento e autorregulação
A infância é um período cujas experiências, afetos e descobertas são levadas para o resto da vida. Nesse contexto, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais ganha ainda mais importância. Mas como ensinar os pequenos a reconhecer e nomear as emoções, além de lidar com elas?
Segundo Eduardo Calbucci, um dos criadores do Programa Semente, deve-se partir do universo de referência da própria criança, mostrando, por exemplo, que as emoções dão sinais no nosso corpo.
“A lágrima e o choro estão ligados à tristeza. Já o coração bater mais forte, a pessoa ir ficando vermelha e, às vezes, ter até vontade de gritar se relaciona mais ao medo ou à raiva. Ao descrevermos esses sintomas físicos para as crianças, nós conseguimos concretizar melhor o que são as emoções”, afirma.
Calbucci diz que, nesse processo,também é fundamental deixar claro para elas que, quando nós nomeamos alguma coisa – uma emoção ou até mesmo um objeto – isso passa a existir, a ser reconhecido, a fazer sentido.
“Temos consciência da existência de algo por meio da linguagem. Ao ampliarmos o vocabulário da criança, ela passa a saber o que significa estar triste, brava, com medo ou raiva. Aquelas emoções começam a fazer parte do seu repertório, e ela começa a entender melhor o que está sentindo.”
Por que é importante ensinar habilidades socioemocionais já na infância?
O professor destaca que, quanto mais identificamos essas emoções desde pequenos, mais conseguimos avaliar se elas estão adequadas ou não ao que estamos vivendo.
“Começamos com um processo de autoconhecimento e depois passamos para o autocontrole, a autorregulação e a automodulação emocional, em que avaliamos a coerência entre nossos sentimentos e o que estamos efetivamente vivenciando.”
Ele explica que “ficar triste porque o cachorrinho morreu, ficar com raiva porque foi acusado de algo que não fez ou ficar com medo porque estamos no meio de uma pandemia”, por exemplo, são emoções coerentes com as situações.
De acordo com ele, quando esse processo de aprendizagem socioemocional começa na primeira infância, normalmente os resultados são muito mais duradouros.
“A criança pequena está em um momento de grandes descobertas. Se conseguirmos colocar essa consciência emocional nesse processo, é muito provável que a gente esteja dando bases muito sólidas para que essa criança no futuro venha a ser um adulto muito mais realizado, pessoal e profissionalmente.”
Ouça também:
https://open.spotify.com/episode/6DOx2YlsXB2qPyyBgeSbXu?si=3EzsbwxUR9mHAKPp0KUX3A&dl_branch=1