Ensino híbrido vai exigir maior foco em habilidades socioemocionais. Escolas devem construir espaços para que alunos expressem suas emoções.
Conhecer e regular as próprias emoções é importante em qualquer época da vida. Mas, durante a pandemia, essas habilidades socioemocionais se tornaram ainda mais relevantes. Nesse período, emoções desagradáveis, como a tristeza, a raiva e, principalmente, o medo – e os estados emocionais que dele derivam, como a preocupação, a ansiedade e até mesmo o pânico – se manifestaram com muita intensidade, e lidar com esses sentimentos foi um grande desafio.
“Durante o ano de 2020, nós tivemos vários depoimentos de pais e mães de alunos do Programa Semente, que relataram como essas aulas foram importantes, pois as crianças e os adolescentes precisavam de um espaço para falar sobre o que estavam sentindo”, afirma Eduardo Calbucci, o professor Bucci, um dos autores do Programa Semente. “No ambiente escolar, aulas de desenvolvimento de habilidades socioemocionais são um momento privilegiado para fazer esse tipo de discussão.”
Ele destaca que, mesmo uma pessoa que antes da pandemia julgava que lidava bem com o medo, talvez tenha ficado amedrontada durante os últimos meses, o que é absolutamente normal. “Nós tínhamos uma capacidade de lidar com o medo em um mundo não pandêmico, mas o mundo pandêmico nos obrigou a desenvolver mais intensamente a capacidade de modular as emoções desagradáveis.”
Aprendizagem socioemocional na retomada das aulas presenciais
Na volta às aulas presenciais, Bucci diz que será preciso aprender a lidar com as inseguranças que, durante algum tempo, estarão presentes no contexto escolar. “Talvez a gente ainda vivencie por um período um sistema que temos chamado de híbrido, em que alguns estudantes estão na sala de aula e outros em casa, simultaneamente. Ou pode ser que alguns alunos estejam uma semana em casa e outra na escola. Teremos que conviver, por algum tempo, com essa incerteza.”
O professor explica que um dos ensinamentos do Programa Semente é que a preocupação, para ser produtiva, precisa focar em algo que está sob nosso controle. “A pandemia está fora do nosso controle. Então, só nos resta aprender aceitar essas inseguranças e lidar com elas.”
Conforme mais alunos vão retornando para a escola, é importante que haja um ambiente de acolhimento, em que as crianças e os jovens, principalmente os que perderam parentes e amigos, possam expressar suas emoções.
Segundo ele, não podemos cometer a falha de achar que o melhor modo de passar por isso é não falando sobre o assunto. “É exatamente o oposto. É falando sobre isso que vamos conseguir desenvolver essas competências socioemocionais.”
Nesse retorno, ele aponta que também será preciso trabalhar as competências da família da amabilidade, entre as quais estão a empatia, o respeito e a confiança.
“O uso de máscara, por exemplo, é uma demonstração de respeito pelos outros, pois ela protege mais as outras pessoas do que quem está usando a máscara. E, num momento como esse, entender as dores alheias, tentar se colocar no lugar das outras pessoas e confiar também que elas estão seguindo os protocolos sanitários, tudo isso vai ser muito importante.”