A combinação da desinibição, própria dos ambientes virtuais, e do desejo de ter uma imagem positiva pode nos levar a comportamentos que não teríamos no mundo realNas redes sociais, muitas vezes, acontece um fenômeno interessante chamado de cyberdesinibição. Ele diz respeito a uma certa coragem que adquirimos para postar algo que, normalmente, não ousaríamos verbalizar fora do ambiente virtual.Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente, explica que isso acontece porque, nas interações virtuais, na maior parte das vezes, nós não estamos monitorando as reações do nosso interlocutor. “Quando falamos ao telefone, a voz do outro vai nos dando informações a todo momento. Numa conserva presencial, nós temos as expressões faciais e corporais, que também acabam produzindo significados. Mas, nas redes sociais e nos aplicativos de troca de mensagens do celular, isso não ocorre”.Segundo o professor, no mundo digital, estabelecemos relações de outra ordem, o que exige toda uma preparação para lidar com isso. “Às vezes, as pessoas não percebem que escrever é mais sério do que falar, porque fica um registro permanente”, afirma.
Imagem positiva nas redes
A partir do momento que a gente escolhe o que vai postar ou o que vai dizer, existe um outro fator a ser considerado, de acordo com ele, que é a imagem que tentamos criar de nós mesmos nas redes sociais. Aí, a desinibição se combina com o desejo de ter uma imagem positiva nas redes.“Essa imagem têm uma tendência a superestimar valores positivos. Então, alguns se esforçam para criar uma imagem de alguém mais inteligente, mais divertido ou mais bem resolvido e que tem muitos amigos. Não se trata de desonestidade, mas de parcialidade. O que a gente vê nas redes sociais a respeito de uma pessoa não é a vida completa dela, mas uma parte daquilo”, diz.Para Calbucci, a princípio, isso não é um problema. Porém pode se tornar um quando esse retrato criado nas redes sociais difere muito do que a pessoa é no mundo real. “Quando começa haver um distanciamento muito grande, a pessoa pode acabar sendo vítima da própria imagem que criou de si mesma. É uma coisa perversa, porque ela pode começar a acreditar naquela personagem, distanciando-se perigosamente da realidade”, ressalta o professor.