Indisciplina é o desrespeito a uma regra e, no ambiente escolar, a expressão é mais adequada do que falta de educação; violência é questão grave e pode envolver punição pelo Código PenalViolência, indisciplina e falta de educação são termos que, muitas vezes, usamos como sinônimos. No entanto, eles não devem ser confundidos. Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente, explica as diferenças entre eles.A falta de educação seria um termo mais amplo, que parte de um julgamento moral – o que ser educado depende de julgamentos valorativos e pode variar de ambiente para ambiente. No universo escolar, segundo Calbucci, é preciso tomar cuidado quando se fala de falta de educação. Isso porque a educação, em geral, é entendida como um processo amplo, que não se restringe ao comportamento, mas diz respeito também à aquisição de uma série de competências cognitivas e socioemocionais.Em geral, a expressão é usada para se referir a quem não se comporta bem de acordo com um determinado padrão. Mas aí haveria uma imprecisão, conforme Calbucci aponta, pois a noção de boa educação não é universal e pode variar de acordo com o país, a cultura, a escola e até em relação a cada família. Aquilo que é inaceitável num determinado colégio, por exemplo, pode não ser em outro. “Assim, dentro do ambiente escolar, o mais adequado seria empregar o termo indisciplina”, afirma.
Regras na escola
Em relação à indisciplina, toda escola tem um projeto pedagógico, um regimento, um estatuto que determina quais são os comportamentos que alunos e professores devem ter. Qualquer coisa que desrespeite isso, segundo Calbucci, poderia ser considerado um caso de indisciplina. Um aluno que conversa ou usa o celular durante a aula, se isso foi estabelecido que não poderia acontecer, constituiria um caso de indisciplina.“Esse fenômeno da indisciplina ocorre em qualquer ambiente. Por mais que se criem regras, nunca todo mundo vai se comportar exatamente da maneira como foi planejado. E as escolas têm que lidar com isso”, pontua. Dependendo do grau da indisciplina, o aluno pode receber de uma advertência até uma punição mais severa.“Os professores, de alguma forma, são preparados para lidar com esses casos leves de indisciplina, pois isso faz parte do processo de ensino-aprendizagem”, afirma o professor.Mas existem casos de indisciplina que são mais graves – por exemplo, quando o professor é desrespeitado por um aluno. A fronteira entre o que é indisciplina e o que é violência nem sempre é tão clara.“É difícil estabelecer essa separação. Mas uma das maneiras é considerar que violência é algo mais grave do que indisciplina e pressupõe um tipo de ato que pode ser punido fora do ambiente escolar, inclusive, pelo Código Penal. Violência seria agressão física, assédio, bullying, ameaça, injúria, calúnia. É mais do que a mera indisciplina”, diz Calbucci.Para Calbucci, é importante tentar ser rigoroso no uso desses termos para não utilizá-los como equivalentes. “A indisciplina é um problema, mas faz parte do trabalho do professor. Porém, quando se torna violência, o problema é gravíssimo, e precisamos estar atentos a isso”.