É importante diferenciar a crítica agressiva, que nada acrescenta, daquela que pode levar ao aprimoramento pessoal
Uma frase famosa do filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre diz que “o inferno são os outros”. Isso significa, grosso modo, que, quando nascemos, encontramos o mundo pronto, com suas regras de funcionamento e seus valores. E, ao passarmos pelo processo de socialização, temos que nos adequar a parâmetros que nem sempre vão ao encontro dos nossos desejos. Mas, como somos seres sociais e vivemos em grupos, é preciso sempre achar o equilíbrio entre nossa opinião e a opinião dos outros, entre as impressões que temos de nós mesmos e as impressões que os outros têm de nós.“Assim como não devemos adotar uma postura extremamente egoísta e individualista como se as nossas impressões fossem sempre mais precisas do que a dos outros, o que fecha portas de relacionamentos sociais, dar uma importância muito grande às opiniões das outras pessoas também acaba sendo algo ruim. É no meio-termo que está a harmonia”, diz Eduardo Calbucci, professor e um dos autores do Programa Semente.Para ele, saber o que os outros pensam a respeito de nós pode fazer com que repensemos muito as nossas atitudes e valores. “Às vezes, achamos que não estamos demonstrando determinada postura, mas, na verdade, estamos. A gente deve respeitar essas posições dos outros.”
Quando o julgamento se torna bullying?
O grande problema é que esses julgamentos podem ser injustos, covardes, agressivos e preconceituosos. “Isso que é o bullying. Ele nasce de um julgamento negativo que acrescenta muito pouco para o sujeito que está sendo criticado. Porque a boa crítica, de alguma forma, permite que a pessoa reconheça um problema e se desenvolva. O bullying, por definição, não possibilita isso. Ele é a violência pela violência. É a agressividade pela agressividade.”Calbucci explica que esses julgamentos se tornam muito dolorosos para a vítima, porque as pessoas têm uma tendência de se importar com que os outros pensam. “E se os outros pensam da gente apenas coisas negativas, é evidente que é difícil lidar com isso. Nesse caso, é preciso distinguir as coisas. Não se trata de uma crítica a ser levada em consideração, mas de uma violência inaceitável”, ressalta o professor.Em certas etapas da vida, como na adolescência, essas questões requerem uma atenção ainda maior, pois é um momento em que a pessoa convive com uma série de transformações, que podem afetar a autoestima e aumentar vulnerabilidade.Para Calbucci, quem pratica bullying tem dificuldade de se colocar no lugar da outra pessoa. E uma das maneiras de desenvolver a empatia é por meio da aprendizagem socioemocional. “As aulas levam a pessoa a incorporar no seu dia a dia a ideia de não fazer aos outros aquilo que não gostaria de que fizessem com ela. É um pensamento simples, mas que ajuda a combater esse tipo de coisa.”De acordo com ele, não adianta só intervir quando o problema se manifesta. “A aprendizagem socioemocional é algo contínuo e, quando é feita de maneira eficiente, a chance de esses comportamentos agressivos se manifestarem no ambiente escolar diminui bastante”, conclui o professor.