Emoções são universais e independem do gênero, mas é necessário avaliar a adequação às diferentes situações
Falar sobre emoções e mostrar aos meninos que eles também precisam expressar seus sentimentos é fundamental no processo educativo. A colocação é do professor Eduardo Calbucci, um dos fundadores do Programa Semente. “No processo de socialização, ainda há uma tendência, dentro da nossa sociedade, em educar meninos e meninas de maneira diferente. Isso é prejudicial para ambos”, afirma.“Os meninos acham que não devem exprimir os seus sentimentos, enquanto as meninas são estimuladas a demonstrá-los em quase qualquer situação. Isso reforça uma imagem falsa da força do homem e da fragilidade da mulher”, diz o professor.Calbucci explica que as emoções, como raiva, alegria e tristeza, são absolutamente universais e todos nós, independentemente de sermos homens ou mulheres, vamos senti-las em determinados momentos de nossas vidas. Aceitar as emoções como naturais faz parte do processo de amadurecimento emocional.“O choro, ou qualquer manifestação que indique uma intensidade emocional muito grande, costuma ser visto como atitude mais feminina do que masculina. No entanto, é natural que qualquer pessoa expresse isso. Seria estranho alguém que não chorasse em alguns momentos de perda na vida. Tentar evitar essas reações pode trazer mais prejuízos do que benefícios”, ressalta o autor.De acordo com Calbucci, o que se procura ensinar nos programas de aprendizagem socioemocional é a adequação da manifestação dessas emoções à situação de vida. Em algumas ocasiões não exprimir determinados sentimentos pode trazer benefícios; em outras, malefícios. “Chorar em qualquer situação de insatisfação pode não ser bom e revelar alguém que não consegue controlar os seus sentimentos. Mas, muitas vezes, o choro é absolutamente apropriado para determinada circunstância”.Ele exemplifica: “Um adolescente chorar porque foi derrotado em uma partida de videogame não parece ser uma situação que represente uma perda substancial. Mas alguém chorar porque perdeu um parente, amigo ou até um animal de estimação é uma reação até esperada. ”“Há pessoas que exprimem mais ou menos emoção, independentemente de serem homem ou mulher. Esconder sentimentos e acreditar que eles são femininos ou masculinos é um equívoco completo. É algo que nenhum estudioso, educador ou pedagogo pode defender. Quanto menos houver distinção no processo de socialização de meninos e meninas, melhor para todo mundo”, conclui o professor.