Especialista explica o surgimento dos conceitos e como o mundo contemporâneo exige uma reflexão mais ampla que vai além dessa dicotomia
Você já ouviu falar sobre hard skills e soft skills? Trata-se de uma divisão das habilidades humanas entre duas categorias: as cognitivas e as comportamentais, respectivamente. Ou seja, um exemplo de hard skill seria o conhecimento em Photoshop, enquanto a capacidade de gestão do tempo seria uma soft skill. Porém, será que ainda é interessante a utilização desses termos no mercado de trabalho e no contexto atual?
De acordo com Fernando Suzuki, gerente da área de Novos Negócios da Semente Educação, o conceito de soft skill remete aos tempos de guerras: surgiu em meados de 1972 nos manuais de treinamentos das forças armadas dos Estados Unidos, com o objetivo de trazer uma ideia de humanização e cidadania para esses profissionais.
Em contraposição, surge o termo hard skill, em uma espécie de anteposição à aprendizagem relativa aos sentimentos. Essa definição separou as duas frentes de habilidades e sedimentou a concepção de aprendizado cognitivo puro e intelectual.
“Esses conceitos se popularizaram no meio corporativo devido à sua facilidade de abordagem e aplicação”, opina Fernando, também líder do lançamento do novo produto da Semente, a CoreSkills. “Isso pode ter relação com a cultura do mundo corporativo do “how to” (como fazer), de manuais e de como facilitar a aplicação no dia a dia e em larga escala.”
Uma abordagem menos fragmentada
O especialista aponta que o mundo não é tão dicotômico quanto as pessoas pensam. “Nós enxergamos as habilidades de hoje muito mais de forma híbrida do que separada”. Ele exemplifica o pensamento com duas soft skills clássicas: criatividade e pensamento crítico.
“Elas demandam grande desenvolvimento de habilidades socioemocionais”, diz. “Porém, se o indivíduo não possui um determinado arcabouço intelectual e um estudo mais aprofundado sobre os temas que gostaria de opinar ou desenvolver, dificilmente conseguirá demonstrar perícia nelas”.
Por isso, a divisão radical entre as habilidades técnicas e comportamentais é muito difícil de ser implementada. Suzuki elaborou um slide para a melhor compreensão dos termos:
Core skills, as habilidades essenciais
As core skills (em português, habilidades essenciais) estão associadas à criatividade, curiosidade, capacidade de aprender, empatia, pensamento crítico, entre outras, e representam uma forma mais ampla de observar as características individuais. Um exemplo é a resiliência, uma competência híbrida, formada pela modulação do medo e da tristeza, da persistência e da imaginação criativa.
A separação rígida entre as duas categorias de competências já não se sustenta no mundo contemporâneo e no mercado empresarial. “Com o rápido desenvolvimento de alta tecnologia, certas habilidades técnicas não precisarão dos humanos para serem obtidas. Por isso, competências exclusivamente humanas, como pensamento criativo, capacidade de análise e empatia, combinadas a essas habilidades técnicas, serão cada vez mais valorizadas”, afirma Fernando.