Abordar o assunto de maneira adequada ajuda no reconhecimento de fatores de risco e na busca de ajuda especializada, favorecendo a prevenção
O suicídio, tema do Setembro Amarelo, é um assunto muito complexo e delicado. Existe um senso comum de que o melhor seria não falar sobre ele, uma vez que isso poderia estimular algumas pessoas a atentarem contra a própria vida.
Mas, segundo o médico psiquiatra Dr. Fernando Fernandes, membro do conselho científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) e coordenador do Programa de Transtornos do Humor pelo Instituto de Psiquiatra da USP, essa ideia é equivocada e não tem nenhum fundamento. “Todas as evidências mostram que abordar de maneira adequada o assunto acaba prevenindo o suicídio. Isso significa, por exemplo, difundir informações qualificadas sobre a prevenção.”
Esses conhecimentos ajudam a combater o preconceito que existe sobre o tema, auxiliando as pessoas a identificarem fatores de risco em si mesmas e nos outros para poderem buscar ajuda especializada.
Uma das principais causas de morte de adolescentes
Os adolescentes e os jovens são os principais afetados pelo problema. Há quatro décadas, os dados apontavam que os idosos eram o grupo mais prevalente em relação às taxas de suicídio. Quase não havia registros de adultos e muito menos de jovens e adolescentes. Mas, nas duas últimas décadas, esse cenário mudou.
Atualmente, o suicídio é a terceira causa de morte de adolescente de 15 a 19 anos, passando para a segunda causa na faixa etária entre 15 e 29 anos. E, infelizmente, em muitos países, inclusive no Brasil, o comportamento suicida em adolescentes e adultos jovens está aumentando.
Fatores de risco
Os transtornos psiquiátricos são o principal fator de risco relacionado ao suicídio. Entre eles, o mais fortemente associado é a depressão. Dr. Fernandes o explica que ela tem destaque, porque é uma doença muito comum – cerca de 18% das pessoas ao longo da vida terão pelo menos um episódio depressivo –, além de fazer parte de outros diagnósticos.
Mas, além da depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, alguns transtornos de personalidade, como transtorno borderline, e o uso de substâncias psicoativas também conceituem fatores de risco. “Todas essas doenças se relacionam entre si. Por exemplo, o uso de substâncias por quem tem transtorno bipolar potencializa o risco de suicídio. O mesmo ocorre com a esquizofrenia”, diz o médico.
Detecção precoce e tratamento
A detecção precoce dos transtornos é muito importante para que a intervenção correta seja feita, nos âmbitos social, familiar, psicológico e psiquiátrico. “Para cada tipo de transtorno psiquiátrico existe uma intervenção que vai ajudar na prevenção ao suicídio. Não há uma regra ou remédio único, mas o tratamento adequado para determinada situação ou diagnóstico”, destaca Dr. Fernandes.
Por exemplo, se o diagnóstico for a depressão, o tratamento vai envolver o uso de antidepressivos, entre outras medidas e orientações para a família. No caso do transtorno bipolar, é indicada a utilização de estabilizadores de humor. O psiquiatra é quem que vai cuidar do tratamento medicamentoso, mas muitos outros profissionais podem ajudar, como psicólogos, assistentes sociais e até nutricionistas.
Fatores de proteção
Enquanto os fatores de risco são aqueles de maior probabilidade para o desenvolvimento de um comportamento suicida, os fatores de proteção tornam menos provável essa ação. Fortalecê-los é uma forma de trabalhar a prevenção.
Entre os principais fatores de proteção ao suicídio estão:
- vínculos com amigos, parceiros, familiares e demais pessoas nos diversos espaços em que o indivíduo circula, como escola, trabalho, espaços de lazer e esporte. O sentimento de pertencimento àquele ambiente ou àquelas pessoas tende a evitar comportamentos destrutivos.
- habilidade em lidar com as próprias emoções e resolver conflitos. O enfrentamento de adversidades, frustrações e perdas contribui para o amadurecimento e o fortalecimento pessoal e o desenvolvimento da resiliência. Por outro lado, quem tem dificuldade em lidar com essas situações acaba se enfraquecendo e se desconectando da vida.
- religiosidade e espiritualidade. Ter uma crença ou um objetivo de vida traz senso de propósito, dá força para enfrentar os problemas e ajuda na superação de crises.
Outros pilares fundamentais da prevenção ao suicídio são o cuidado com a saúde mental e, pensando nas pessoas ao redor, a empatia, o respeito e a capacidade de escuta.
Veja também: