Ronaldo Carrilho, diretor de conteúdo da Semente Educação, explica quando o ato de adiar uma tarefa pode se tornar um problema
De acordo com dados do Google Trends, de janeiro a maio de 2023, a palavra “procrastinação” bateu seu recorde de pesquisas na ferramenta. Nos últimos cinco anos, a quantidade de vezes que os brasileiros buscaram pelo termo foi extremamente significativa, com um aumento de 90%. Sobre o significado da palavra, Ronaldo Carrilho, um dos autores do Programa Semente, explica que ela consiste no ato de adiar uma tarefa que precisa ser feita.
Normalmente, essa ação está presente no cotidiano de todos e não costuma trazer grandes problemas. “Quando nosso despertador toca, é muito comum que a gente acione o modo ‘soneca’ para ficar mais 5 ou 10 minutos na cama. Alguns até já deixam preparado o despertador com essa função. Outro exemplo: ninguém tem grandes prejuízos quando posterga o banho porque está acabando de assistir a um filme”, diz Carrilho.
Quando a procrastinação é um problema?
O ato de adiar uma tarefa é mais comum quando ela não é prazerosa, como declarar o imposto de renda ou preencher um documento burocrático para o trabalho. Embora nem sempre traga consequências negativas, Carrilho ressalta a importância de notar sinais de que a procrastinação virou um hábito indesejável, que está prejudicando seus resultados na vida pessoal e profissional.
“Por exemplo, se um estudante ou um profissional tem que entregar um trabalho que exige várias etapas (como observação, coleta de dados, pesquisa, elaboração e apresentação), ao postergar suas execuções, além de comprometer a qualidade da entrega, os resultados obtidos também ficarão aquém do desejado, impactando o sucesso e o progresso do indivíduo. Isso é observável e pode ser perceptível por um processo de autoavaliação”, diz.
O autor do Programa Semente incentiva o indivíduo a se fazer perguntas, como: “o fato de eu ter deixado para fazer essa tarefa na última hora impactou a qualidade da entrega?” ou “a procrastinação está prejudicando minha produtividade?”. Na esfera escolar, estudantes que procrastinam regularmente costumam ter piores desempenhos, maior dificuldade de atingir seus objetivos e mais crises de ansiedade. Por isso, estudar apenas na véspera da prova é prejudicial ao aprendizado.
Como evitar a procrastinação?
Carrilho responde: “Não há uma solução mágica, única, infalível e duradoura para esse mau hábito. Há inúmeras dicas e estratégias de combate à procrastinação espalhadas por sites e pensadas por psicólogos e pedagogos”. De forma sucinta, ele ressalta que tudo passa por:
• Gerenciamento do tempo
• Escolha de prioridades e quebra em metas menores
• Recompensa.
No entanto, essas ações só são efetivas se o indivíduo (criança, adolescente ou adulto) tiver algumas competências socioemocionais bem desenvolvidas. O profissional exemplifica: quando tem uma prova muito importante, o estudante deve, em primeiro lugar, gerenciar o seu tempo e estabelecer prazos. Depois de se organizar, precisa ter foco e responsabilidade para cumprir aquele cronograma, sem ceder a distrações externas.
Para definir suas prioridades e quebrar as metas em tarefas menores, distribuindo o conteúdo pelas horas de estudo, ele também desenvolverá competências socioemocionais da família da autogestão. Se tiver recaídas ou dificuldades em seguir os processos, precisará modular as emoções desagradáveis, como o medo, a tristeza ou a raiva de não alcançar as coisas como imaginava.
“Nessa agenda, deve-se prever os períodos de pausas e de outros compromissos (lanches, refeições e atividades físicas, por exemplo). Além disso, na organização, devem estar previstas as pequenas recompensas: ouvir uma música, comer um chocolate, jogar um jogo de curta duração, conversar com um amigo ou amiga ou tirar um breve cochilo”, diz Carrilho. Esse mecanismo de incentivo, por sua vez, depende da imaginação criativa, uma habilidade socioemocional da família da abertura ao novo.
E não acaba por aí: as competências socioemocionais da família do engajamento com os outros, como iniciativa social, e da amabilidade, como respeito, também entram nesse mosaico. Isso porque, quando não entender certos tópicos ou exercícios, o estudante deverá procurar ajuda de um professor ou amigo.
Portanto, a procrastinação pode ser evitada por meio de diversas estratégias, mas todas dependem do fortalecimento das habilidades socioemocionais. É essencial realizar essa mudança de hábito quando perceber que sua postura está atrapalhando a sua produtividade ou as suas entregas. E aí, já está trabalhando nesse desenvolvimento socioemocional?