Dar a atenção devida à aprendizagem socioemocional para ajudar jovens a reconhecer e modular as emoções, desde cedo, constitui um poderoso fator protetor ao longo da vida. No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/09) e no mês Setembro Amarelo, o Programa Semente lembra a importância de tratar o assunto com famílias, alunos e escolas, sem estigmas.
O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) ̶ Suicide Worldwide in 2019 ̶ revela que o suicídio é uma das principais causas de morte em todo o mundo e mais de 90% dos casos está ligado a transtornos mentais. Apenas em 2019, um em cada 100 óbitos ocorreu por suicídio e, entre os jovens de 15 a 29 anos, representou a quarta causa de morte. O tema, de saúde pública, está entre as prioridades da Agenda 2030 da OMS, para melhorar a prevenção e o atendimento.
Como identificar sinais de que algo não vai bem?
É preciso estar atento às mudanças de comportamento. Por exemplo, o adolescente costuma ser alegre, comunicativo e, de repente, permanece, por uma ou duas semanas, triste, isolado, irritado. Outro ponto de alerta são frases ou indicações que remetem à despedida nas redes sociais ou fora dela.
“Todas as pessoas têm flutuações emocionais, isso é natural, porém ,quando há sinais fora do padrão habitual, com muitos altos e baixos, é hora de intervir, aproximar-se, estabelecer uma relação de confiança para que o jovem possa se abrir e receber o suporte adequado, ou acolhendo suas emoções ou direcionando à ajuda especializada, se necessário”, esclarece o médico psiquiatra e fundador da Semente Educação, Celso Lopes de Souza.
Além do Setembro Amarelo, elo entre família, aluno e escola precisa acontecer sempre
Criar um ambiente de confiança e suporte, em que as dificuldades e sentimentos possam ser expostos com naturalidade, ajuda pais e educadores a perceber com mais facilidade os sinais de alerta e agir rapidamente.
“Assim como a atividade física auxilia a prevenção de uma série de doenças, desenvolver habilidades socioemocionais, desde cedo, ajuda a reconhecer e modular as emoções, o que é um poderoso instrumento de perceber o mundo e se relacionar com ele. A ciência comprova que as medições dessas competências na escola podem contribuir muito para as decisões pedagógicas e, por sua vez, incentivar os alunos a desenvolver respostas mais apropriadas às adversidades, por meio do fortalecimento da resiliência e outros aspectos comportamentais que os auxiliarão a enfrentar obstáculos e buscar realização na vida pessoal, acadêmica, profissional e social”, aponta o especialista.
Todos temos de lidar com as emoções no dia a dia, e a mente humana pode ficar doente, como qualquer outro órgão do corpo. Vínculos fortes com familiares e amigos, reconhecimento precoce da situação, suporte e, no caso de transtornos mentais, tratamento incisivo são caminhos para a prevenção do suicídio.
Uma publicação recente da OCDE “A Educação no Brasil, uma perspectiva internacional” trata em um de seus tópicos sobre a importância de manter no ambiente escolar o bem-estar dos alunos e de desenvolver habilidades socioemocionais no processo pedagógico. “A escola precisa unir o conhecimentos das disciplinas tradicionais com as competências socioemocionais. Desta forma, o saber vira sabedoria”, ressalta Celso.