Racionalizar a emoção é fundamental para que os estudantes vençam desafios impostos pela vida e desenvolvam a chamada ‘mentalidade do crescimento’
O medo nunca esteve tão presente. Violência urbana, agrotóxicos cancerígenos, possibilidade de acidentes, despertencimento social, envelhecimento… Segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, 20,8% das pessoas têm transtorno de ansiedade, o que significa que elas passam o tempo inteiro com medo de alguma coisa, visto que a ansiedade nada mais é do que medo antecipado. O número é dez vezes maior do que na década de 1980.Ter medo, no entanto, não é essencialmente ruim. Ao contrário, ele é uma emoção protetora. Quando sentimos medo, reconhecemos um perigo e ficamos alerta para nos proteger. Foi assim que, ao longo da evolução, chegamos até aqui. A questão é que o alarme do medo pode estar desregulado no nosso cérebro - é aí que nos tornamos reféns dele.“Quando isso acontece, passamos a enxergar perigos e ameaças que não existem”, diz Eduardo Calbucci, professor e um dos criadores do Programa Semente. Ele explica que o mais importante nessa situação é avaliar se o que estamos vivendo deveria ou não gerar medo. Parece difícil racionalizar tal sentimento, mas aprender a lidar com esse tipo de emoção paralisante é um dos principais desafios da alfabetização socioemocional.
A aprendizagem socioemocional contra os temores internos
Essa aprendizagem é fundamental para que crianças e adolescentes se tornem adultos autônomos e condutores da própria história. Passar a frequentar uma nova escola, lotada de pessoas que você nunca viu antes, por exemplo, pode ser uma situação altamente perturbadora. Mas é preciso dar o primeiro passo. “A gente precisa aprender a vencer os desafios impostos pela vida. A isso chamamos mentalidade do crescimento”, explica Calbucci.Ao contrário do que se acreditou por muito tempo, tal vitória não se deve a um dom inato da pessoa, todo mundo é capaz. É possível aprender a lidar com o medo através de programas estruturados de aprendizagem socioemocional, como sugerem pesquisas científicas internacionais. O autocontrole, a perseverança e a resiliência são as habilidades que irão fazer com que alunos passem pelas mais variadas adversidades da vida.Aprender a regular nossos temores é urgente em uma sociedade que explora o medo. Não à toa existe o chamado ‘marketing do medo’, que manipula esse sentimento para vender. Se você não tiver a roupa da moda, não irá pertencer ao seu grupo; se não usar o desodorante x, pode ter mau cheiro; se não tomar o produto y, pode ficar com a barriga flácida. Ter autocontrole para discernir o que de fato é perigoso do que é imaginação nos torna muito mais fortes.