É preciso estimular a coragem e a curiosidade, mas a introversão não deve ser estigmatizada, pois também tem aspectos positivos
Quando falamos em timidez e comportamento retraído na infância, é preciso cuidado para distinguir o que seria aceitável e comum para essa faixa etária do que realmente destoa do esperado. “Os pais têm uma tendência em comparar o desenvolvimento emocional, cognitivo e motor das crianças, mas não é tão simples fazer isso, principalmente em relação às crianças pequenas”, diz Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente. “Às vezes, numa sala de aula com alunos de quatro ou cinco anos, a diferença de idade pode chegar a quase um ano. Isso equivale a cerca de 20% da vida dessa criança”.Ele explica que uma pessoa tímida, em geral, apresenta dificuldade para iniciar um contato social, fazer novos amigos e se comportar com naturalidade num ambiente novo. “Isso acontece em geral porque ela vê algum perigo ou imagina que corre algum risco. A timidez, muitas vezes, está ligada ao medo. A pessoa não consegue enxergar sua capacidade para enfrentar esse tipo de situação”.Para o professor, a solução para isso seria uma mistura de coragem e curiosidade. Essa combinação gera a chamada “iniciativa social”, que é a capacidade de iniciar uma relação com alguém que não conhecemos. Isso inclui, por exemplo, puxar um assunto com uma pessoa numa festa ou na academia, tirar uma dúvida num emprego novo e até se aproximar de alguém por interesse amoroso. “Para as pessoas tímidas, isso representa um sofrimento muito grande. Mas todo mundo vai precisar ter, em algum momento da vida, essa iniciativa social. E isso pode ser ensinado.”
Como não deixar que a timidez atrapalhe no dia a dia?
De acordo com ele, se uma criança tem mais dificuldade em fazer amizades e de se relacionar, é preciso estimular essas duas emoções consideradas positivas. A coragem, ressalta ele, não significa ausência de medo. “Uma pessoa corajosa é alguém que pode até ter medo, mas age apesar dele. A coragem permite que a gente continue tomando atitudes”, afirma. Já a curiosidade está ligada à abertura para o novo, a uma disposição para enxergar as novidades e se interessar pelas coisas que a gente não conhece.Calbucci ressalta, no entanto, que a timidez e o medo têm um aspecto positivo, um caráter protetor. Em alguns momentos, uma pessoa que é introvertida pode até se precaver de riscos que uma pessoa mais extrovertida não perceberia. “Às vezes, num ambiente novo, ouvir um pouco antes de falar e entender como as coisas funcionam para só depois tomar uma iniciativa social podem ser, inclusive, manifestações de maturidade. O problema das emoções é a dificuldade de regulá-las. A gente não deve estigmatizar esse comportamento tímido e introvertido como se fosse um problema maior do que é”, finaliza o professor.