Leia as dicas do Dr. Celso Lopes de Souza, psiquiatra e criador do Programa Semente, sobre como controlar a ansiedade na hora da prova
O enfrentamento das provas dos vestibulares mais concorridos do país talvez seja o primeiro grande desafio profissional dos jovens. É fácil mensurar esse desafio: a conquista de uma vaga em uma universidade pública no curso de medicina, por exemplo, significa obter um prêmio de cerca de R$ 500.000.00 – preço médio que o aluno pagaria pelo curso em uma universidade particular. Um candidato que não apresentar um grau de excelência nos quesitos técnicos (conhecimento do conteúdo programático) e emocionais (administrar a ansiedade no momento da prova) terá sérias dificuldades para obtenção de êxito.
Nesse contexto, estou preocupado com o equilíbrio psicológico. Por que tanta gente “derrapa” no momento da prova? O que faz com que candidatos capacitados em termos de conhecimento fiquem nervosos a ponto de não conseguir reverter em pontos o que sabem? Podem surgir "brancos" de memória e sensações físicas como taquicardia, suor excessivo e tremores.
Inicio a reflexão sobre isso com um pensamento:
“Os homens são perturbados não pelas coisas em si, mas pelo que pensam sobre elas”.(Epitectus, 70 AC)
É exatamente isso. São os pensamentos que contam. Sempre que você experimenta um estado de ansiedade intensa, existem pensamentos que definem e fortalecem esse estado. Alguns podem questionar se é possível os pensamentos produzirem as reações físicas observadas durante o nervosismo. Não é difícil comprovarmos isso.
Imagine um limão bem suculento. Imaginou? Agora, corte esse limão. Pegue uma das metades e esprema-a em sua boca. Se você fez esse exercício com concentração, provavelmente salivou. Viu como pensamentos produzem reações físicas?
Mas como isso pode ocorrer durante a prova? Observe:
Batimento cardíaco um pouco aumentado. (reação física)
↓
Estou ficando nervoso. (pensamento)
↓
Respiração superficial e aceleração dos batimentos cardíacos. (reações físicas)
↓
Não estou me lembrando de nada, não vou conseguir. (pensamento)
↓
Respiração mais superficial e menos oxigênio para o cérebro. (reações físicas)
↓
Eu sabia que ia ficar nervoso, deu branco, que droga! (pensamento)
Observe que foi uma sequência de pensamentos que intensificou as reações físicas e culminou no famoso branco.
Mas como impedir que isso aconteça?
É importante que você identifique o que está pensando e avalie a veracidade dos seus pensamentos antes de agir.
Pensamentos como "estou ficando nervoso" ou "não estou lembrando de nada", devem ser imediatamente questionados, como por exemplo:↓"É perfeitamente comum ficar um pouco nervoso no início de uma prova. Tenho certeza de que quem está levando essa prova a sério também está nervoso". (pensamento compensador)
"É impossível se lembrar de tudo. Não se lembrar de alguns assuntos não quer dizer que eu não vou conseguir. Vou dar o máximo de mim". (pensamento compensador)
Estar vigilante aos pensamentos e considerar o maior número de ângulos possível de um determinado problema pode levar a pessoa a novas conclusões e desfechos.
Se, para ter paz, você precisa da certeza de que irá passar, você nunca terá paz. Essa certeza é impossível.
Se, para ter paz, é preciso lembrar-se de tudo, você jamais terá paz. É impossível se lembrar de tudo.
Se, para ter paz, é necessário dar tudo certo no dia da prova, você não terá paz. É perfeitamente possível que algo dê errado sem que isso o prejudique a ponto de impedir a conquista de sua vaga.
Embora a identificação e a modificação dos pensamentos sejam um ponto central para a diminuição da ansiedade, colocá-los em prática exige treino e vigilância. Treine bastante. E boas provas!