Sandra Dedeschi, autora do Programa Semente, reflete sobre a importância de conectar professores e estudantes como forma de fortalecer o aprendizado socioemocional
A educação é a base para o desenvolvimento da sociedade, pois prepara as crianças e adolescentes para exercerem sua cidadania. Mesmo depois de adultos, a disposição para aprender propicia descobertas e atualizações do conhecimento coletivo. Comemorado no dia 15 de outubro no Brasil, o Dia do Professor homenageia os profissionais que são a base de todo processo educacional, destacando o impacto que eles podem ter na vida de todas as pessoas.
Em qualquer nível de ensino, os professores podem favorecer o desenvolvimento socioemocional, de forma intencional ou não, conforme interagem com os estudantes. A longo prazo, esse trabalho forma indivíduos mais preparados para o convívio coletivo, capazes de coordenar as próprias emoções e perceber as necessidades dos outros.
Qual o papel dos educadores no desenvolvimento socioemocional?
O aprendizado socioemocional pode ser trabalhado por professores de todas as disciplinas, para turmas de qualquer faixa etária. Esse exercício pode acontecer até de forma implícita, com um educador reconhecendo a raiva de um estudante, por exemplo, e estimulando o controle das emoções desagradáveis.
No cenário citado, o indivíduo aprendeu a confiar mais naquele adulto e a buscar a autorregulação. Sandra Dedeschi, autora do Programa Semente e mestre em Psicologia Educacional, aponta outro exemplo: "Quando um educador demonstra a seu aluno que reconhece o esforço para enfrentar uma situação, incentivando-o a não desistir, está favorecendo o desenvolvimento da persistência.”
Apesar da convivência diária gerar resultados que favorecem as competências socioemocionais, a profissional ressalta: “Sabemos que a aprendizagem socioemocional será potencializada quando os educadores desenvolverem propostas estruturadas e intencionais a respeito desse tema.”
Os educadores devem demonstrar que também vivenciam conflitos e crises?
Situações de crise e conflitos fazem parte do cotidiano humano. Embora alguns estudantes, sobretudo as crianças, esqueçam-se desse fator quando estão na sala de aula, os professores também erram, sentem estresse e são magoados.
“Entendemos que, quanto mais novos os alunos, maior é a admiração que tendem a ter pelos seus professores, que assumem forte papel como autoridade. No entanto os educadores também sentem as mais diversas emoções, inclusive as desagradáveis, e precisam das competências socioemocionais como instrumentos para enfrentar seus desafios, pessoais e profissionais”, explica Sandra Dedeschi.
Sendo assim, é importante que os educadores expressem as suas emoções para os estudantes, fortalecendo as relações interpessoais e reforçando que sentimentos importam. Caso perceba que está nervoso, por exemplo, o professor pode comunicar assertivamente isso ao grupo, indicando que retomarão o assunto em outro momento, com mais calma. Assim, ele evita a piora da situação e traça uma atitude de exemplo para a turma.
Segundo Sandra, uma boa notícia é que, ao trabalhar com um programa voltado especificamente para a aprendizagem socioemocional, os professores aplicadores dos produtos da Semente Educação passam a olhar mais para si próprios e realizam reflexões essenciais para o seu desenvolvimento pessoal.
Por que as competências socioemocionais ajudam a lidar com conflitos?
Por mais que sejam indesejados, os conflitos acontecem em qualquer momento da vida. As competências socioemocionais podem ser desenvolvidas e são estratégias essenciais para a resolução desses momentos. O esperado é que, conforme crescem, os indivíduos façam uso de mecanismos adequados para lidar com os seus problemas, diferentemente de uma criança de dois anos, que provavelmente gritaria ou choraria numa situação de insatisfação.
Sandra finaliza a reflexão com alguns exemplos: “Competências como a iniciativa social e a assertividade, da família do ‘engajamento com os outros’, serão de grande valia para que o indivíduo seja capaz de buscar pelas pessoas envolvidas no conflito e tentar resolvê-lo, colocando suas ideias com clareza. No entanto, precisará de empatia e respeito, da família da ‘amabilidade’, para considerar os sentimentos dos outros e tratá-los de forma respeitosa. Ainda, vai necessitar de habilidades que ajudem a modular as emoções desagradáveis, bastante esperadas quando enfrentamos nossas crises e conflitos.”