Emoções desagradáveis, como a tristeza, a raiva e o medo, devem ser acolhidas, pois fazem parte da natureza humana, ajudam no autoconhecimento e nos ensinam a ser resilientes e empáticos
Combater o pessimismo e tentar pensar positivamente pode ser uma maneira de lidar com os problemas com mais leveza. No entanto, silenciar emoções negativas e generalizar um estado feliz e otimista, seja qual for a situação, pode ser prejudicial e comprometer o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a regulação das emoções e a resiliência. E esse fenômeno pode gerar o que muitos chamam de “positividade tóxica”.
“A positividade tóxica é uma tentativa de forçar a si mesmo ou as pessoas próximas a negar a tristeza ou a lidar com emoções consideradas desagradáveis. Na positividade tóxica não há espaço para acolher a tristeza, o medo, a inveja ou a raiva, emoções tipicamente humanas e que nos trazem diversos aprendizados”, diz Ana Carolina D’Agostini, psicóloga e gerente editorial do Programa Semente.
Como identificar a positividade tóxica no comportamento das pessoas?
Um exemplo de positividade tóxica é dizer a alguém que está enlutado, por ter perdido um parente durante a pandemia, por exemplo, frases como “pelo menos, você o teve presente na sua vida por anos” ou “em vez de ficar triste, agradeça por todos os bons momentos que viveram juntos”.
“Tais palavras podem ser uma tentativa bem-intencionada de animar a pessoa, porém impedem com que o outro se permita estar triste por uma situação em que tal sentimento é apropriado e genuíno”, afirma a gerente.
Ela destaca que esse tipo de comportamento pode afetar o amadurecimento emocional de jovens e adultos ao evitar que entrem em contato com emoções que nos ensinam muito sobre nós mesmos.
“A tristeza pode sinalizar que perdemos algo ou alguém que era importante para nós. A ansiedade pode nos impulsionar a nos prepararmos melhor para enfrentar uma questão. Já a angústia pode sinalizar que é hora de buscar outros caminhos para determinada situação que não está nos fazendo bem”, exemplifica.
Segundo ela, reconhecer em si mesmo o sentido das emoções mais desagradáveis e quais são os gatilhos que levam a elas favorece o autoconhecimento e também a regulação emocional, elementos fundamentais para a saúde mental. “Além disso, quando lidamos com desafios pessoais, nos tornamos mais resilientes e empáticos”.
Ana Carolina explica que o tema pode ser trabalhado na escola por meio da reflexão e do exercício do pensamento crítico – por exemplo, ao analisar o uso das mídias sociais. “Comumente nas redes sociais há o foco extremo na felicidade contínua e na exaltação da aparência, o que pode facilmente levar à comparação com a própria vida e a sensação de que não somos bons ou alegres o suficiente”.
Ela ressalta que é importante não negligenciarmos aquilo que sentimos, pois toda emoção tem a sua razão de ser . “Não existem emoções ‘negativas’, e sim proporcionais ou não a determinado acontecimento. A positividade tóxica pode fazer com que nos sintamos culpados por não sermos tão otimistas e felizes quanto achamos que deveríamos ser. As emoções desagradáveis fazem parte da vida e devem ser acolhidas assim como as demais.”